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Chegada do La Niña deve aliviar temperaturas no 2º semestre do ano

Há 55% de probabilidade para formação do fenômeno que trará frentes frias mais intensas em todo o Brasil.
(Foto: Luiz Fernando Cerni/Oeste Notícias)

O calor escaldante em razão das altas temperaturas deve aliviar a partir do segundo semestre do ano com a chegada do fenômeno La Niña. Uma nota técnica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgada nesta semana diz que há 55% de probabilidade da formação do La Niña a partir de julho.

Provocada pelo resfriamento do Oceano Pacífico Tropical, a La Niña é o oposto do El Niño e deve refrescar grande parte do Brasil e do mundo. Com a mudança de fenômeno, são esperadas frentes frias mais intensas e prolongadas em todo País na segunda metade do ano.

“Apesar de atualmente o fenômeno [El Niño] estar classificado como forte, a intensidade do fenômeno deve mudar de moderada para fraca nos próximos meses com possibilidade de formação do La Niña no segundo semestre”, diz o documento do Inmet.

Como funcionam os fenômenos El Niño e La Niña

El Niño e La Niña são nomes para padrões complexos de ventos e temperaturas no Oceano Pacífico. Os ventos no oceano podem ter três fases: a primeira é neutra, e eles sopram do Leste para o Oeste; outra é o El Niño, onde eles desaceleraram ou até param; e, a terceira é a La Niña, onde sopram mais forte.

Dá para pensar no Oceano Pacífico, que cobre um terço da Terra, como uma banheira de água fria com um ventilador próximo das torneiras. Ao abrir a torneira de água quente por alguns poucos segundos e ligar o ventilador, a brisa jogará um jato de água quente para o fim da banheira. Nos anos “regulares”, é assim que os ventos empurram o calor da América do Sul para a Ásia.

Mas, durante o El Niño, mudanças no calor e na pressão desligam o ventilador. A água quente permanece na região da torneira, acumulando mais água quente no meio da banheira – na realidade, no oceano e próximo da América do Sul. Isso impulsiona a evaporação e a formação de nuvens em locais que normalmente não são esperados.

“De repente, há grande quantidade de chuva perto da costa do Peru”, exemplifica Erin Coughlan de Perez, autora do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pesquisadora do Centro Climático da Cruz Vermelha. “São despejos de água sem precedentes num local que costuma ser bastante seco.”

Os efeitos do El Niño se estendem acima do Oceano Pacífico e pelo resto do mundo. Eles alteram as rotas das correntes de jato – ventos fortes muito acima do solo – que viajam pelo planeta guiados pelas chuvas.

“As nuvens altas cutucam a atmosfera e desencadeiam ondas [atmosféricas]. Isso perturba o clima em todos os lugares”, detalha Rodrigues.

As mudanças climáticas e El Niño e a La Niña

O El Niño e a La Niña são fenômenos naturais. Os cientistas ainda não entendem completamente suas causas, mas sabem, pelos recifes de corais e pelos anéis das árvores, que eles sempre variaram. Há alguma evidência de que eles ficaram mais fortes – eventos mais fortes do El Niño foram registrados nas últimas poucas décadas -, mas não está claro se isso é apenas casual.

O IPCC descobriu que há “pouca confiança” de que o aquecimento global já tenha mudado os eventos do El Niño. Alguns modelos de computador mostram o fenômeno mais forte no futuro, enquanto outros o veem ficando mais fraco.

Mas o IPCC também descobriu que os efeitos dos eventos extremos do El Niño e da La Niña provavelmente serão mais fortes à medida em que o planeta esquentar.

Como o ar mais quente pode absorver mais umidade, o mesmo evento El Niño significa que mais chuva cai localmente, afirma Ludescher. O ar pode conter 7% a mais de vapor de água para cada 1°C que o planeta esquentar. Ao queimar combustíveis fósseis e destruir as florestas, a humanidade já aumentou a temperatura da Terra em 1,2°C desde a Revolução Industrial.

Impactos do El Niño e La Niña nas mudanças climáticas

As temperaturas da superfície global aumentam 0,1°C durante os anos de El Niño. Nos anos de La Niña, elas caem aproximadamente no mesmo padrão. Isso ocorre porque menos água fria é puxada das profundezas do oceano próximo ao Peru durante o El Niño, deixando mais água quente na superfície. Isso aumenta a temperatura das superfícies.

Um retorno do El Niño em 2023 significa a possibilidade de as temperaturas médias globais ultrapassarem 1,5°C – o nível no qual os líderes mundiais prometeram tentar conter o aquecimento global até o final do século. Ainda assim, a longo prazo, um aumento nas temperaturas pelo fenômeno não tornaria a humanidade menos propensa a alcançar suas metas climáticas, que dependem do corte da emissão de gases do efeito estufa. Mas o calor extra pode, a curto prazo, prejudicar as pessoas, plantas e animais.

Os recifes de corais, por exemplo, devem diminuir de 70 a 90% se o aquecimento global passar de 1,5°C. Ultrapassar esse limite, mesmo que por pouco tempo, poderia ter consequências permanentes. “Alguns corais podem não sobreviver a isso. E se eles estiverem mortos, eles não voltam”, pontua Ludescher.

Por que El Niño e La Niña são importantes?

Muitas previsões meteorológicas sazonais dependem da previsão correta de fase – e de força – do El Niño e da La Niña. A informação pode ser muito útil para todos, desde planejadores urbanos a agricultores.

“Isso não é apenas interesse teórico: é uma informação útil”, afirma Perez. Serve, por exemplo, para governo locais fazerem planos de alerta precoce para ondas de calor e criar sistema de proteção para idosos, que correm maior risco de morrer. “Isso é sobre nós e nossa preparação, e como sobrevier num mundo em aquecimento”.

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