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O lamentável desperdício de alimentos e as mudanças climáticas – Dilceu Sperafico

O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado.
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

De acordo com estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), todos os anos são produzidas quatro bilhões de toneladas de alimentos no planeta e nada menos do que um terço desse total acaba desperdiçado. Nos aterros sanitários ou lixões em grande parte do mundo esse lixo orgânico sofre decomposição, produzindo gases de efeito estufa (Gee), que causam aquecimento global e contribuem para as mudanças climáticas. Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Fao), a perda e o desperdício de alimentos são responsáveis por até 10% das emissões globais de Gee. Para efeito de comparação, isso representa quase cinco vezes o total do setor de aviação e, se representasse um país, seria o terceiro maior emissor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e China.

“Um dos Gees é o metano, 20 vezes mais eficiente como gás de efeito estufa do que o próprio dióxido de carbono”, alerta Tercio Ambrizzi, diretor do Instituto de Energia e Ambiente (Iee) e coordenador do Incline ou núcleo de apoio a pesquisa em mudanças climáticas, ambos da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, a produção e distribuição de alimentos te mais necessidades, como água, como setor é responsável por 70% dessas demandas, energia e terra, que também acabam sendo desperdiçadas. “Já existe impacto por si só, pois perturbamos a organização natural de ecossistema ao promover a mudança do uso da terra, a perda do habitat natural de diferentes espécies animais e liberação de carbono armazenado no solo, mesmo com propósito de produzir alimentos para a humanidade. Quando ocorre desperdício, esse propósito se perde”, acrescenta Nadine Marques, pesquisadora da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Faculdade de Saúde Pública da USP.

“Há ainda a questão do transporte, majoritariamente rodoviário no Brasil, do campo para a indústria e, de lá, para os supermercados e residências. Além da maneira como os alimentos são comercializados, que desestimula o consumo de frutas amassadas e folhas danificadas”, declara Priscila Coltri, coordenadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Soma-se a esses dados outro agravante, como é um terço da população mundial viver em situação de insegurança alimentar e 783 milhões de pessoas literalmente passarem fome todos os dias. Por todos esses motivos, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata de padrões de consumo e produção sustentáveis, é estabelecer meta de reduzir pela metade o desperdício global de alimentos

Segundo o relatório do Pnuma sobre o tema, a maior parte do desperdício vem das residências ou 60% do total de 631 milhões de toneladas em 2022, seguido dos setores de serviços de alimentação e varejo. O documento também mostra que em 2022, 1,05 bilhão de toneladas de alimentos foram desperdiçadas, o equivalente a 20% dos produtos disponíveis nas residências, supermercados e serviços de alimentação. Na cadeia de abastecimento, da pós-colheita até o comércio, as perdas são de 13%. Já as famílias jogam fora pelo menos um bilhão de refeições por dia, ou 1/3 das refeições diárias que poderiam ser destinadas aos afetados pela fome no mundo. Por pessoa, o número anual do desperdício é de 79 kg de alimentos por ano.

*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

E-mail: [email protected]

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