Especialistas veem erro de manobra e falha no degelo em queda da VoePass

Relatório aponta falhas no uso do sistema de degelo e manobra que pode ter levado à perda de controle da aeronave.
(Foto: Reprodução/Record)

Um ano após o acidente com o avião da VoePass que matou 62 pessoas, em Vinhedo, no Interior de São Paulo, as famílias das vítimas aguardam a conclusão das investigações da tragédia. Até o momento existem duas investigações, uma do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), e outra da Polícia Federal.

Segundo o relatório do Cenipa, a aeronave decolou do Aeroporto de Cascavel às 11h58, com destino ao Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Durante o voo, foram registrados diversos alertas de desempenho e de gelo. O sistema de detecção de gelo foi ativado por volta das 12h14, a 13 mil pés de altitude, e permaneceu ligado até o final do trajeto. Já o sistema de degelo foi acionado e desativado diversas vezes, comportamento que chama a atenção dos investigadores.

“Todo piloto antes de sair ele faz um planejamento de voo. A meteorologia já indicava que ele encontraria gelo. Aparentemente, foi um gelo mais severo do que ele esperava, porque esse avião tem recursos que ele pode voar sob gelo, porque ele tira o gelo das asas principalmente da hélice. Tem equipamentos disponíveis para evitar que se acumule gelo do avião e que prejudique a sustentabilidade do voo”, explicou Roberto Peterka, especialista em segurança de aviação.

A aeronave também apresentou alertas de baixa velocidade de cruzeiro (“Cruise Speed Low”), desempenho degradado (“Degraded Performance”) e, durante uma curva, foi emitido o alerta “Increase Speed” (aumente a velocidade), acompanhado de ruídos de vibração.

Para o especialista, uma manobra diferente poderia ter evitado esse acidente. Além disso, Peterka apontou que o relatório preliminar aponta que o sistema de degelo foi ligado e desligado três vezes.

“Nesses três alarmes, provavelmente num voo tenso, eles se distraíram e não prestaram atenção. E foi logo após, quando o controle de tráfego aéreo pediu para ele fazer uma curva, e nessa curva, a velocidade dele, com a asa degradada, estava provavelmente abaixo da velocidade mínima de controle, e aí ele, infelizmente, perdeu sustentação, entrou num parafuso, a partir daí um parafuso chato, e veio até o solo”, completou.

Entenda o que é o parafuso chato citado no relatório

Conforme o relatório, às 13h21, o avião entrou em estol (perda de sustentação) e perdeu o controle, entrando em uma atitude de voo anormal, com giros em “parafuso chato”, até colidir com o solo.

“O parafuso chato seria uma sequência de cavalo de pau, só que ele não teria a mesma velocidade horizontal, o deslocamento dele não teria a velocidade horizontal que num carro você teria movido pela inércia, ele percorria o espaço girando, esse ele gira em torno do eixo, no mesmo local e vai perdendo altitude até vir para o solo”, concluiu.

Queda de avião em Vinhedo: piloto não declarou situação de emergência
Entre os achados preliminares, o CENIPA aponta que havia previsão de gelo severo na rota e que as condições meteorológicas estavam disponíveis aos pilotos. A perda de controle ocorreu em um ambiente propício à formação de gelo, sem que houvesse qualquer declaração de emergência por parte da tripulação.

Para o vice-presidente da Abravoo, Márcio Patrício, os pilotos tinham a formação necessária para comandar o avião em casos de emergência.

“Eles [pilotos] tinham a formação necessária para pilotar o avião, inclusive em emergência”, explicou.

Veja também