A agricultura espacial tem participação do agronegócio brasileiro – Dilceu Sperafico

O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado.
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

O agronegócio brasileiro está crescendo e evoluindo ao ponto de já estar enviando plantas para o espaço, o que certamente seria interpretado como brincadeira se mencionado há alguns anos. Trata-se da agricultura espacial, o que explica o fato do Brasil estar colocando espécies de plantas em naves espaciais e as remetendo para fora do planeta Terra. Foi no último mês de abril que sementes de grão-de-bico e plantas de batata-doce produzidas por agricultores brasileiros, partiram em voo suborbital de empresa especializada, o que representou importante passo para a evolução da agricultura espacial do País. Resta saber agora o que é exatamente a agricultura espacial e por que pesquisadores brasileiros estão enviando vegetais para fora da atmosfera terrestre.

Essa história começou em 2020, quando a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) e o Departamento de Estado dos Estados Unidos, com participação de empresas de voos espaciais comerciais e parceiros internacionais, firmaram o Acordo Artemis com os objetivos de levar seres humanos novamente à Lua, ao espaço profundo e possivelmente pela primeira vez ao planeta Marte. Diferentemente do Programa Apollo, também da Nasa, desenvolvido entre 1961 e 1972, a ideia das novas missões é estabelecer bases permanentes com presença humana, dando início a economia sustentável na Lua e, em longo prazo, no planeta vermelho, em cenário que remete ao filme “Perdido em Marte”, de 2015.

No começo, o acordo envolvia oito países, mas atualmente conta com participação de 55 nações, incluindo o Brasil, que aderiu ao programa em 2021. Em 2022, foram publicados os objetivos do Artemis, alguns deles relacionados ao cultivo de plantas no espaço, pois o custo do envio de comida produzida na Terra inviabilizaria a manutenção de alimentação para astronautas em viagens ou estabelecidos em Marte. “Como o Brasil é internacionalmente reconhecido pela pesquisa agrícola, vislumbrou-se a oportunidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) contribuir, pensando também no retorno à sociedade brasileira de todas as tecnologias que serão desenvolvidas no decorrer dos trabalhos espaciais”, explica Alessandra Fávero, pesquisadora da Embrapa Sudeste e coordenadora da rede Spacing Farm Brasil.

A ideia foi levada inicialmente à gestão da Embrapa Pecuária Sudeste, que apoiou o avanço de articulações sobre a temática com pesquisadores de outras unidades da instituição, como de Agroenergia, Instrumentação, Hortaliças, Agroindústria Tropical e Soja, além da Agência Espacial Brasileira (AEB) e diversas universidades e instituições de pesquisas. Atualmente, a Rede Space Farming Brasil conta com 56 pesquisadores de 22 instituições, incluindo quatro internacionais, com diferentes expertises, além de 18 órgãos de pesquisas e universidades do País. No dia 14 de abril deste ano, a rede estabeleceu marco inédito ao enviar alimentos ao espaço. Durante cerca de cinco minutos, os vegetais ficaram expostos em ambiente de microgravidade, o que pode fornecer parâmetros para o desenvolvimento de cultivo espacial. A escolha do grão-de-bico e batata-doce para os primeiros experimentos brasileiros se deveu aos fatos da leguminosa ser rica em proteína e o tubérculo em carboidrato de baixo índice glicêmico, ambas versáteis na preparação de alimentos, gerando poucos resíduos e tendo rápido crescimento e fácil manejo.

*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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