A insegurança e a violência das cidades já chegaram ao agronegócio – Dilceu Sperafico

O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado.
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

A insegurança e as perdas de vidas e patrimônios com o crescimento da criminalidade não atingem e assustam apenas moradores de grandes, médias e pequenas cidades brasileiras. Para o mal da sociedade e do País, a violência também chegou ao campo, apavorando grandes e pequenos produtores, trabalhadores rurais, suas famílias, o agronegócio e os consumidores de alimentos. Ações criminosas envolvendo roubos e furtos de máquinas agrícolas, como tratores, caminhonetes e implementos, cresceram 37,5% no Brasil no 1º semestre de 2025 em relação a 2024.

Expansão semelhante ocorreu com golpes, roubos, furtos de animais, grãos e outros produtos, além de assaltos aos proprietários rurais. No País, o Estado de São Paulo lidera o registro de crimes contra o agronegócio, com 70% das ocorrências, seguido do Paraná, com 10%. Na sequência, estão Maranhão, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Minas Gerais. Os dados são de empresa de rastreamento de crimes nas áreas rurais que atua em 17 Estados.

Conforme especialistas, além de tratores, pulverizadores e plantadeiras, os furtos e roubos também atingiram caminhonetes, com crescimento de 22,8% nas ocorrências, pois esses veículos são muito valorizados no comércio de peças ilegais, clonagem e, até mesmo, utilizados como moeda de troca no Paraguai. Conforme policiais, o furto é o crime mais comum no campo, já que tem penas mais brandas e é mais difícil de comprovar, pois os bandidos conhecem a rotina das propriedades. Em muitos casos, esperam os finais de semana, quando proprietários e trabalhadores deixam suas moradias, para agirem. Assim, o crime só é percebido na segunda-feira. De acordo com policiais rurais, as máquinas agrícolas roubadas, podem facilmente ultrapassar seis dígitos em valor e são descaracterizadas após o furto com remoção de placas, adesivos e qualquer outra identificação. Algumas vezes, são revendidas em outros Estados e raramente trafegam em rodovias movimentadas.

Conforme a Polícia Ambiental de São Paulo, muitas vezes após os crimes as máquinas e produtos são escondidos em áreas de preservação, para dificultar a visualização. A corporação, que trabalha com o apoio do grupo de WhatsApp Lava Gado, criado há 10 anos por produtores rurais do Estado, já recuperou muitos tratores roubados e furtados.

Com informações fornecidas pelas vítimas, os policiais conseguiram visualizar as máquinas abandonadas em área de matas, utilizando drones. Levantamento do grupo Lava Gado apontou 74 ocorrências de furtos em áreas rurais da região entre 1º de janeiro e 12 de agosto de 2025, com média de uma ocorrência a cada três dias. Os crimes envolveram desde o furto de caminhonetes e tratores, até a subtração de rebanhos inteiros de gado.

No Rio Grande do Sul, em 124 municípios os casos de furtos de bovinos aumentaram nos primeiros seis meses de 2025, na comparação com o mesmo período de 2024, o que demonstra que em uma a cada quatro cidades gaúchas, o abigeato segue avançando. Em relação à prevenção, a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), recomenda aos produtores a instalação de câmeras de segurança, além de evitar exposições desnecessárias, deixando de mostrar o que comprou, o que está guardado na propriedade e de levar pessoas desconhecidas para dentro do imóvel, para que as quadrilhas não saibam de tudo o que tem de bom e valioso nas propriedades rurais mais bem equipadas.

*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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