A tendência de preços para a soja e o milho em 2024 é de estabilidade. Caso uma queda seja verificada, a mesma não deverá seguir a intensidade observada entre 2022 e 2023. A recuperação da produção no sul do Brasil e países afetados pelo clima, somada ao alto estoque de passagem em Mato Grosso e na China, são fatores para tal perspectiva.
Os preços das duas commodities em Mato Grosso começaram a recuar em 2022. A soja atingiu seu pico máximo, conforme dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), em 10 de março quando registrou média de R$ 184,74. Na mesma data em 2023 o valor pago no mercado disponível ao produtor rural era de R$ 142,67 a saca. O menor pico verificado no estado para o grão em 2023 foi de R$ 104,11 em 14 de junho.
Com o milho, mostram os dados do Imea, não foi diferente. O maior pico verificado em 2022 foi em 11 de março com média de R$ 79,98 no mercado disponível. Logo em seguida o grão começou a apresentar recuo. Em 10 de março de 2023 a saca de 60 quilos valia em média R$ 58,33, sendo no ano o menor pico verificado em 18 de outubro a R$ 29,98 de média.
“Para 2024 nós temos uma possibilidade de os preços ficarem muito mais estáveis. Pode vir queda? Pode, mas uma queda com intensidade menor do que foi de 2022 para 2023”, avalia sócio-diretor da Markestrat, José Carlos de Lima Jr.
De acordo com ele, as chances de haver alta são pequenas, pois as condições internacionais não favorecem. No caso da soja, por exemplo, observa-se uma China com um estoque elevado. Já na ótica do milho se tem os Estados Unidos que em 2023 voltaram a plantar.
“O clima americano, por mais que se teve problema de seca no início, a quebra ou a diminuição na previsão do próprio USDA foi um impacto na ordem de 1% a 2%. Ou seja, não foi tão expressivo. Então, nós teremos um grande volume de milho sendo colocado no mercado”.
José Carlos Lima Jr. lembra ainda que o Brasil, mais precisamente Mato Grosso, conta ainda com um grande volume de milho que não foi comercializado.
“Você tem um volume de passagem disponível significativo. Portanto, você tem uma possibilidade de muito mais oferta, considerando uma pressão baixista do que automaticamente alguma situação externa que possa puxar os preços para cima. Então, não vai cair na mesma intensidade que caiu de 2022 para 2023. Mas, para 2024 dada essas condições você tem muito mais possibilidade de estabilidade”.
Etanol de milho foi a salvação do cereal
A entrada da China no mercado consumidor do milho brasileiro foi um fator contribuinte para que os preços do grão não recuassem ainda mais. Contudo, a maior contribuição, salienta o sócio-diretor da Markestrat, é das usinas de etanol de milho.
“O que fez com que o preço do milho em Mato Grosso não caísse mais por incrível que pareça foram as plantas de etanol, que acabaram se beneficiando do aumento do açúcar. O mercado sucroenergético foi predominantemente de açúcar e isso fez com que no Centro-Oeste as plantas de etanol a partir do milho tivessem uma vantagem competitiva significativa”.
Sobre a possibilidade de preços da saca de 60 quilos de milho abaixo de R$ 10, como visto em anos anteriores, caso se considerasse as exportações e a nutrição animal como consumidores do cereal, José Carlos Lima Jr. salienta acreditar que a tais patamares não chegariam.
“Não chegaria naquele patamar. Se não tivesse as usinas de etanol de milho o valor com certeza teria chegado na casa dos R$ 20. É possível, porque você tem uma grande oferta do produto estocado, a pecuária não estava comprando e você tinha um mercado internacional que até então não estava aberto”.
A China, segundo ele, “ela deu uma suavizada, mas ela acabou abrindo e comprando muito mais porque o prêmio aqui no Brasil estava muito mais atrativo. Tanto que quando teve a situação de prêmios negativo no porto, considerando a soja, os Estados Unidos vieram comprar soja no Brasil”.
Redução de área na safra 2024/25
Questionado sobre uma redução de área destinada para a soja na safra 2024/25, considerando que os preços a possibilidade de preços estáveis e custos ainda elevados, o sócio-diretor da Markestrat não descarta uma “revisão”.
“Você tem aquelas áreas que estão bem estruturadas, possivelmente o produtor que está bem capitalizado ele pode sim produzir, mas de maneira geral muitos produtores vão rever o tamanho da área que pode vir à plantar ou plantar com menos tecnologia”.
José Carlos Lima Jr. salienta acreditar que em caso de redução de área esta deverá vir de áreas de arrendamento.
“Seria excelente [manter a área], só que para manter teria que manter o valor de arrendamento. A pergunta é: aqueles que estão arrendados estão pagando o valor de arrendamento? Os valores estão sendo revisados para baixo? Porque você arrendamento em algumas situações que estavam 17, 18 sacas por hectare. Isso não se paga. Isso não se remunera nesse patamar de preço que estamos hoje”.
Com informações do Canal Rural