Agronegócio brasileiro e uso de tecnologias contra crises climáticas – Dilceu Sperafico

O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado.
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Mesmo sendo apontado como um dos responsáveis pelo aquecimento global, o agronegócio brasileiro está se destacando também na prevenção e controle de crises climáticas, através do cultivo de vegetais, criação de animais e aproveitamento de modernas tecnologias. Conforme especialistas, robôs movidos pela energia solar que monitoram lavouras, bioinsumos que melhoram o solo sem agredir o meio ambiente e plataformas que antecipam eventos climáticos extremos, são algumas das inovações desenvolvidas no País que mostram o potencial da agropecuária como produtora de alimentos e aliada no combate às mudanças do clima. Referência mundial na produção agropecuária, o Brasil vem se consolidando também como polo de inovação impulsionado pelas agtechs ou startups, que desenvolvem soluções para o agronegócio com a utilização de softwares, biotecnologia, inteligência artificial (IA), automação e robótica.

Conforme estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e outras instituições do setor, o Brasil conta atualmente com 1.972 agtechs, enquanto em 2019 eram apenas 1.125, com crescimento de 75% em cinco anos. De acordo com o setor de inovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a área em que as startups mais se destacam no agronegócio é a eficiência produtiva, através do uso de sensores, drones, IA e big-datas para otimizar insumos e aumentar a produtividade. Da mesma forma, a sustentabilidade com tecnologias para uso racional da água, controle biológico de pragas, recuperação de áreas degradadas, rastreabilidade e certificação, com soluções que garantem transparência e acesso a mercados exigentes, além de adaptação climática, mitigando impactos de secas, enchentes e outros eventos climáticos extremos.

Dessa forma, o Brasil está se posicionando como laboratório de soluções sustentáveis, com foco em agricultura regenerativa, sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, agricultura de precisão, monitoramento por satélite, irrigação eficiente e silvicultura com espécies nativas. Prova disso é que Piracicaba, no Estado de São Paulo, tornou-se um dos principais centros de inovação agrícola do País, ganhando o apelido de Vale do Silício caipira. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), foi decisiva nessa transformação, criando em 1994 incubadora que, desde 2006 também abriga startups e pequenas empresas de tecnologia para o campo.

Em Araçatuba, também em São Paulo, empresa desenvolve robôs autônomos para monitoramento de plantações e aplicação precisa de insumos, reduzindo em até 90% o uso de herbicidas em soja, milho e cana. Outra empresa, criada em 2014, combina sensores, imagens de satélite e dados climáticos hiperlocais para orientar a irrigação, plantios, colheitas e uso de defensivos. Há também empresa, criada em 2021, que desenvolveu bioinsumos para recuperar o solo, apostando em combinações de microrganismos que atuam em sinergia para nutrir plantas, controlar pragas e regenerar o solo. Inteligência artificial e machine learning também ajudam a selecionar combinações mais eficientes para diferentes condições agrícolas. Assim, a competência da agropecuária brasileira demonstra ser resultado do espírito empreendedor, vocação e dedicação de produtores rurais e da ciência própria desenvolvida por institutos de pesquisa e universidades do País.

*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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