Como alertam especialistas, a violência no planeta já ultrapassou as tragédias dos conflitos armados na Ucrânia, Faixa de Gaza e diversos países da África. Exemplo disso acontece no tráfego de veículos nas rodovias e cidades do Brasil, onde de 2010 a 2019 foram registradas 392 mil mortes de seres humanos em graves acidentes, com crescimento de 13,5% em relação à década anterior. Essas perdas, salvo algum engano, superam as mortes em guerras em andamento. Conforme o relatório Atlas da Violência 2025, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o crescimento de mortes no trânsito brasileiro acendeu alerta para necessidade de maior segurança nas vias públicas, especialmente entre motociclistas. Mesmo com campanhas regionais, nacionais e internacionais como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, da Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes no Brasil aumentou 2,3% no período.
Para piorar ainda mais a situação, os dados mais recentes dessas tragédias entre os anos de 2020 e 2023, mantêm a tendência preocupante e entre os principais fatores relacionados ao aumento da mortalidade no trânsito do País estão as mortes de usuários de motocicletas, que cresceram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos. Conforme estudiosos, esses números se devem em grande parte ao aumento da frota de motocicletas no País, sem investimentos proporcionais em infraestrutura e gestão do trânsito, falta de fiscalização e, principalmente, despreparo de motociclistas sem a devida educação para o trânsito. Eles também falam sobre o uso de motocicletas para o trabalho e as medidas efetivas que poderiam ser adotadas para reduzir a violência no trânsito. Assim, o uso de motos para o trabalho aumenta significativamente a circulação e a exposição diária dos motociclistas aos riscos do trânsito, porque cria maior pressão por agilidade e cumprimento de horários e prazos, incentivando comportamentos perigosos, como excesso de velocidade e manobras arriscadas.
Para prevenir e evitar essas tragédias, seria fundamental ampliar campanhas educativas focadas nos motociclistas e incentivar programas de formação e reciclagem, pois nesses veículos o para-choque é formado pelas pernas e cabeças dos condutores. Outra ação importante seria o poder público nacional, estadual e municipal aumentar investimentos em infraestrutura segura e vias adequadas, além da fiscalização e aplicação rigorosa da lei. Da mesma forma, celebrações do Dia do Motorista, em 25 de julho e do Dia do Motociclista, em 27 de julho, deveriam motivar e reforçar campanhas e políticas públicas pela maior segurança no trânsito.
Para nossa preocupação com motociclistas, motoristas, passageiros, pedestres e seus familiares, o cenário atual no País aponta na direção contrária à segurança no trânsito. Segundo o Atlas da Violência, nos últimos anos os recursos destinados à segurança viária sofreram cortes significativos, comprometendo investimentos em infraestrutura e ações preventivas. Sãos os casos da redução da Cide – Combustíveis, queda expressiva na aplicação dos recursos do Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (FUNSET), e extinção do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), que indenizava vítimas e financiava o Serviço Único de Saúde (SUS).
*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
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