Em uma propriedade de 12 hectares no interior de Palotina (PR), três gerações da família Benincá produzem mais do que soja, milho e suínos. Cultiva-se um legado de trabalho, valores e evolução. João, o avô, de 85 anos, estabeleceu as primeiras raízes, o filho Leonir cultivou a planta e o neto Eduardo projeta o futuro com olhos atentos à tecnologia.
“Minha infância foi no sítio, brincando dentro do caixote de ração que o vô usava”, recorda Eduardo Benincá, de 32 anos, que, há cerca de cinco anos, trocou o escritório de arquitetura pelo manejo dos leitões e pelo monitoramento digital da granja. A decisão nasceu de uma urgência familiar, durante a pandemia da Covid-19, mas floresceu como uma escolha de vida. “Eu sempre estive por perto, mas foi nesse momento que entendi que meu lugar também era aqui.”
A propriedade, que hoje funciona como Unidade Produtora de Desmamados (UPD), entrega, semanalmente, em torno de 600 leitões, resultado de um plantel que passou por uma expressiva ampliação: de 400 para mil 1.000 matrizes em 2023.
INÍCIO
João, o patriarca, em 1965 trouxe da pequena Severiano de Almeida, no Rio Grande do Sul, não apenas os móveis, mas também 40 suínos que foram acomodados no porão da casa, que ficava em meio ao mato. “Como não tinha assoalho, colocamos tábuas para ajeitar a mudança em cima e os porcos embaixo da casa”, relembra João.
Ao longo das décadas seguintes, a família diversificou as atividades, integrou-se à cooperativa Campal (atual C.Vale) e, em 2017, passou a operar no sistema de comodato, um modelo que, segundo Leonir, trouxe segurança e estabilidade: “Foi a melhor decisão. Hoje, se eu tivesse que começar, não faria diferente.”
CONTINUIDADE
A sucessão não é apenas uma transição de tarefas, é, sobretudo, de valores. “Meu avô me ensinou a humildade, a disciplina e a resiliência. Meu pai me mostrou que, com força de vontade, a gente pode realizar qualquer sonho”, conta Eduardo, emocionado ao lembrar do apoio que recebeu quando decidiu mudar de carreira. “Sempre ouvi deles:
‘O cavalo passa encilhado uma vez só. Quando ele passar, monte’. E eu montei.”
Para ele, o maior desafio não foi o manejo, mas sim alinhar os pensamentos entre as gerações, com seu olhar jovem.
“Eu bebo da fonte dos mais velhos, mas também trago um olhar diferente, principalmente para a tecnologia”, explica. Leonir complementa dizendo que a abertura para as modernizações foi fundamental. “Se a gente tivesse ficado parado no tempo, a granja teria morrido.”
Para Leonir, ver o filho à frente dos negócios é a concretização de um sonho: “Meu maior orgulho é saber que construímos algo sólido, que ele pode levar adiante com segurança.”
E assim, entre as rotinas de trato animal, análise de planilhas e reuniões com técnicos da C.Vale, a família Benincá segue construindo sua história. E Eduardo resume a vida no sítio em três palavras: “Alegria, abundância e prosperidade”.