Um cacique e um vice-cacique de uma aldeia da etnia Kaingang que fica na reserva indígena de Mangueirinha, na região central do Paraná, foram presos nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal (PF).
Segundo a corporação, eles são suspeitos de integrar uma organização criminosa que atua com desmatamento dentro da terra indígena. As investigações apontam que o grupo estava envolvido na extração, transporte e comercialização ilegal de madeira, especialmente da espécie Araucaria angustifolia (popularmente conhecida como Pinheiro-do-Paraná), em área de preservação permanente.
De acordo com a delegada Vanessa Koczicki, da PF, o cacique era conivente com o corte e a comercialização da madeira das árvores, e se beneficiava economicamente e politicamente com o esquema, por permiti-lo. A corporação também afirma que, só em 2025, foram identificados 255 pontos de desmatamento na região.
“As investigações indicam que o grupo criminoso, composto por indígenas e não-indígenas, operava de forma estruturada em núcleos com funções definidas, incluindo liderança, execução, logística e receptação da madeira extraída clandestinamente. A atuação sistemática da cadeia criminosa causou irreparáveis danos ambientais e deixou rastros deploráveis de destruição no maior remanescente de pinheiro Araucária do país”, diz a PF.
No total, a PF está cumprindo 17 mandados judiciais em Mangueirinha e outras cidades da região, sendo cinco de prisão preventiva e os outros de busca e apreensão e de quebra de sigilo bancário.
Até a última atualização desta reportagem, quatro pessoas tinham sido presas e uma estava foragida. Com um dos detidos, foi flagrada uma posse ilegal de arma de fogo, diz a PF.
Os nomes dos alvos da operação não foram revelados e o g1 tenta identificar as defesas deles.
“Os investigados poderão responder por crimes como organização criminosa, extração ilegal de madeira em área de preservação permanente pertencente à União, furto qualificado e receptação qualificada, cujas penas somadas podem ultrapassar 20 anos de reclusão. […] As medidas visam interromper as atividades ilícitas, preservar provas e assegurar a responsabilização dos envolvidos”, explica a Polícia Federal.
Agora, diz a delegada, a PF busca identificar quem eram os compradores da madeira extraída ilegalmente da área.
A terra indígena de Mangueirinha fica no bioma Mata Atlântica e é considerada uma das maiores e últimas reservas de araucárias do mundo.
A região possui cerca de 17 mil hectares e abriga aproximadamente 780 famílias das etnias Kaingang e Guarani, o que totaliza mais de três mil indígenas.
Ações criminosas relacionadas a desmatamento no local vêm sendo alvo de investigações da PF e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) há pelo menos dois anos.