Termina neste domingo (10) o vazio sanitário da soja, período de três meses em que os agricultores não podem manter pés de soja no campo, para evitar o surgimento de doenças nas lavouras e frear a contaminação pela ferrugem asiática.
Agora, produtores já se preparam para o plantio. Em uma propriedade na Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba, uma área de 70 hectares que hoje tem aveia ressecada deve ser a primeira da fazenda a receber soja. O plantio deve começar ainda em setembro.
“Não tivemos geada esse ano na região sul, então isso pode causar um grande impacto na questão de doença. Os focos de ferrugem já estão sendo encontrados, nós já temos a esporulação no ar e isso causa uma grande preocupação nos produtores, porque hoje essa é a doença que mais afeta nossa cultura”, diz Martin Janke, técnico agrícola e produtor rural na propriedade.
Durante a proibição do cultivo, devem ser removidas plantas que tenham ficado no solo após a última safra. O agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) Carlos Hugo Godinho explica como o vazio sanitário da soja previne problemas graves causados pela ferrugem asiática.

“Ele evita a disseminação do esporo, porque, se as plantas estão doentes, elas estão gerando esporos. E esses esporos no ar vão achar outras lavouras. Então se não tivermos nenhuma planta nesse intervalo de 90 dias, elas não vão estar propagando essa doença e, consequentemente, teremos um retardamento ou uma incidência até menor de ferrugem nas plantas quando elas forem plantadas”, afirma Godinho.
Godinho explica que a medida não erradica a doença por completo, mas evita que ela se espalhe demais e muito cedo.
“A doença não é eliminada, sua entrada fica menos forte no começo e, com isso, conseguimos evitar algumas aplicações de fungicida, que é um fungicida caro, e ter uma produtividade melhor no final da safra.”
O vazio sanitário também é período de planejar a safra de grãos 2023/2024. As previsões são de relativa estabilidade para a soja, que deve ter área e produção semelhantes às anteriores, segundo o Deral. A expectativa é de que sejam colhidas 21,9 milhões de toneladas do grão em todo o estado.
“São 5,8 milhões de hectares que vamos plantar esse ano e podemos produzir até 22 milhões de toneladas, como produzimos ano passado, se conseguirmos repetir o bom desempenho de tempo e clima que tivemos no ano anterior”, afirma Godinho.
Na propriedade de Janke, o solo está bem coberto para o plantio direto sobre as palhas de milho e feijão cultivadas anteriormente. Parte dos fertilizantes também está garantida. Como ele faz rotação de culturas, este vai ser o primeiro plantio de soja na área desde 2021.
Ali, a colheita da soja deve ocorrer por volta de janeiro ou fevereiro de 2024, com rendimento médio esperado pelo produtor próximo de 60 a 70 sacas por hectare.
Uma produtividade assim pode até ser um pouco menor do que em locais em que a soja vai ser plantada entre outubro e novembro deste ano. Mas, na propriedade, isso tem explicação: a área vai receber mais uma cultura ainda antes do fim do verão.
“Essa área será implantada mais cedo porque ainda virá uma outra cultura, da batata, e também é feito isso quando é feita uma cultura, por exemplo, do feijão. Se você quer fazer duas safras, de qualquer tipo de cultura, você tem que adiantar um pouco a questão do plantio da cultura que vem antes”, afirma Janke.
“Então, no caso da soja, vou ter que plantar um pouco mais cedo, tem um ciclo em torno de 130 dias, e com esse ciclo, para se encaixar mais uma safra, que seria a segunda safra, temos que entrar com um plantio um pouco mais precoce”, completa.
Janke e muitos produtores Paraná afora devem investir menos no milho para a próxima safra. A área do grão deve cair de 379 mil para 317 mil hectares no estado, segundo o Deral.
Devem ser colhidas 700 mil toneladas a menos que na mesma época de 2022. Isso porque a cultura anda menos rentável para os produtores.
“Ambas culturas tiveram uma queda nos preços nos últimos meses, mas a queda da soja foi um pouco menos intensa e a soja continua em um patamar onde ela ainda é rentável”, afirma o engenheiro agrônomo do Deral.
“Já o milho, se o produtor precisasse fazer seu custo hoje, vender seu produto hoje, ele estaria abaixo do custo de produção e, com isso, estaria com uma margem negativa. Mas isso em média, porque cada produtor também tem seu custo dentro da sua propriedade e, às vezes, ele consegue, com altas produtividades e com um uso racional de insumos, ter uma lucratividade com o milho.”
Com informações do G1