A Polícia Civil resgatou, na terça-feira (2), uma mulher de 36 anos que era mantida em cárcere privado pelo próprio companheiro há mais de dez anos em Paranaguá, no litoral do Paraná. O homem, de 66 anos, foi preso em flagrante.
Segundo a corporação, as investigações começaram após uma denúncia feita pela mãe da vítima.
Uma equipe policial foi até o endereço do casal e foi recebida pelo homem, que inicialmente se recusou a abrir a porta. Depois de insistência, o casal saiu de dentro da residência.
Conforme os agentes, a vítima estava em pânico, apresentava confusão mental, dizia palavras sem nexo e não sabia diferenciar o espaço temporal em que estava.
Segundo a delegada Maluhá Soares, responsável pelas investigações, o suspeito criou cenários fantasiosos para convencer que a mulher corria risco de morrer caso saísse de casa.
Entre as histórias contadas, o suspeito afirmava que um homem estava atrás dela e queria matá-la e que ela estava com os documentos desatualizados e que, se saísse, poderia ser presa ou morta.
Após a vítima sair da residência, os vizinhos afirmaram que nunca tinham a visto no local.
Conforme a polícia, a casa onde a vítima estava tem condições precárias, não tem água encanada, nem sanitários, e a água é armazenada em baldes.
O advogado Luiz Illipronte, responsável pela defesa do suspeito, afirmou que não se trata de um caso de cárcere privado.
“Ele alega que eles viviam em comunhão, que a decisão de sair ou não de casa era uma decisão em conjunto, dela também”, defende.
‘Forte vínculo de dependência emocional’
A vítima passou por atendimento psicológico.
Segundo a polícia, a mulher apresentou um forte vínculo de dependência emocional com o suspeito, de quem precisava de permissão para realizar atividades, inclusive sair de casa, o que só era autorizado se estivesse acompanhada dele.
Durante interrogatório, o suspeito confirmou que a mulher não saia de casa desacompanhada, alegado que era “perigoso”.
Disse também que o isolamento da vítima se deve por conta de um medo que ela tem de ser morta por conta de problemas nos documentos, narrativa que ele mesmo admitiu ter repassado para ela.
“O que se percebe é que ela também passou a acreditar que ela não podia sair de casa. Muito provavelmente, o companheiro dela incutiu na mente dela essas situações fantasiosas de que ela não podia sair, e ela foi acreditando nisso. Ela também tinha medo de sair, tanto que, quando ela foi convidada a comparecer na delegacia, tinha um receio muito grande de colocar o pé para fora de casa. Dá para ver que é um controle psicológico muito grande que ela sofria”, detalha a delegada.
O homem foi indiciado pelo crime de cárcere privado qualificado pelo fato de a vítima ser cônjuge do agente. Se condenado, o suspeito pode pegar até cinco anos de prisão.
Família não tinha acesso à vítima
Segundo a polícia, a família não tinha acesso à vítima durante todo o período de cárcere.
À polícia, a mãe da mulher contou que tentou visitar a filha várias vezes, mas era impedida pelo suspeito.
Em alguns casos, a própria vítima, possivelmente coagida, se recusou a ver a mãe, afirmando que não a reconhecia e pedindo para que ela fosse embora, se comunicando apenas por uma pequena janela.