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A autossuficiência do trigo e a mecanização da agricultura brasileira – Dilceu Sperafico

O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado.
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

O projeto de ampliar o cultivo e a produtividade do trigo no Paraná e no Brasil, assegurando a autossuficiência nacional na produção do cereal e resgatando a condição dos anos 50 e 60, quando começou a ser implantada a agricultura moderna e mecanizada no Sul do País, faz justiça aos verdadeiros heróis do agronegócio brasileiro, hoje um dos maiores e mais produtivos do planeta.

A 1ª Festa Nacional da Soja, para quem não sabe, foi realizada em dezembro de 1965, em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, onde há até museu da cultura, pois as principais lavouras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País, eram de trigo e milho. Todas implantadas com tratores e implementos importados de outros países, incluindo colheitadeiras tracionadas e com produção de grãos ensacada, para posterior recolhimento por carroças e carretas.

Com a expansão da mecanização da agricultura brasileira, surgiu a importação de sementes de soja, cujos rendimentos de grãos e recursos logo permitiram à nova cultura ultrapassar a extensão e produção de trigais e lavouras de milho. Com isso, a produção de trigo foi sendo reduzida, até porque sua importação era acessível, especialmente de países vizinhos, como Argentina e Uruguai.

Atualmente, o cereal voltou a ser encarado com maior relevância, até porque os grãos de trigo não só oferecem farinha para pães, bolos, massas, bolachas, biscoitos e até a fabricação de cerveja, consumidos em todas as refeições pela população de todas as classes sociais. Com a valorização e investimentos nos trigais, o Paraná é hoje o 2º maior produtor do cereal do Brasil e vem dando passos importantes na consolidação da cultura nos cultivos de inverno. Na expectativa de conquistar a melhor safra da história, o Paraná espera colher 4,5 milhões de toneladas de trigo no atual ciclo, apesar das perdas com enchentes.

A produção nacional de trigo, será de cerca de 10,5 milhões de toneladas nesta safra, enquanto o consumo interno do grão deve atingir 12,4 milhões anuais, o que significa que apesar da expansão e valorização da triticultura, o País seguirá importando cerca de dois milhões de toneladas do cereal por ano. Conforme especialistas, o aumento da demanda nacional de trigo é boa oportunidade de mercado, mas a autossuficiência do cereal só deverá ser alcançada em dois ou três anos, considerando o aumento produtivo e a média crescente de consumo de 2% a 3% ao ano.

A produtividade média do trigo nacional nas últimas safras tem sido de cerca de 3,2 toneladas de grãos por hectare, mas o avanço genético das sementes, além de tecnologia, pesquisa, escolha de solo e assistência técnica adequadas, podem render nos próximos ciclos lavouras com produtividades de até 10 toneladas por hectare. Esse volume, não custa lembrar, é o triplo do que se colhe hoje.

Mesmo assim, o projeto de alcançar a autossuficiência na produção de trigo no País é possível, inclusive a curto prazo. Dirigentes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que atua na área de melhoramento genético dos trigais, afirmam que já existe variedades que rendem cerca de 10 toneladas por hectare. Eles reforçam que o potencial produtivo vai muito além do que se tem visto no campo, mas que, como qualquer outra cultura, é suscetível às condições climáticas e aos tratos culturais, além do melhoramento genético, o que depende do solo, clima, produtores e técnicos.

*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

E-mail: [email protected]

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