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Mãe perdeu filho em bombardeios no Líbano no dia em que compraria passagens para trazê-lo ao Brasil

Filhos que sobreviveram chegaram a Foz do Iguaçu na sexta (27).
(Foto: Zito Terres/RPC Foz do Iguaçu)

Em um único dia a libanesa Noha Ismail, moradora de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, perdeu o filho Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, e o marido Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos. Os dois morreram na última segunda-feira (23) feridos por bombardeios na cidade de Sohmor, na região do Vale do Beqaa, no Líbano.

Em meio às lágrimas, no sábado (28) ela relatou em entrevista à RPC que, naquela segunda, iria comprar passagens para trazer os filhos de volta ao Brasil. Segundo a mãe, dias antes os filhos tinham pedido para ir para Foz do Iguaçu.

“Segunda-feira liguei para o meu marido para falar com os meus filhos, liguei três vezes, mas ele não respondeu… Depois eu acordei, todo mundo falou para mim que o meu marido já faleceu e o meu filho, estavam procurando ele… Ele ficou um dia inteiro perdido, ele ficou um dia com pedras, assim…”

Pai e filho estavam trabalhando em uma fábrica familiar de produtos de limpeza quando um foguete atingiu o local. O filho Mohamed Abdallah, de 16 anos, estava junto, mas sobreviveu.

Bombardeios israelenses no Líbano se intensificaram na última semana. Em uma semana de ataques, já são mais de 700 mortos e dezenas de milhares de moradores deixando suas casas e o país.

O recomeço de quem sobreviveu
Na última sexta-feira (28), Mohamed e a irmã Yara, de 21 anos, retornaram a Foz do Iguaçu. Yara estava na casa onde a família morava quando soube do bombardeio.

Cerca de 200 pessoas, entre amigos e familiares, receberam Mohamed e Yara no aeroporto. Amigos e colegas de Ali entregaram ao jovem uma camiseta com a mensagem: “Para sempre em nossos corações. Ali Kamal Abdallah”.

No corpo, o adolescente carrega as marcas deixadas pelos escombros que o atingiram.

Neste sábado, já em casa, com a mãe Noha, Mohamed contou que não sabe como será a vida daqui para frente.

“Queria que o meu irmão estivesse do meu lado e visse como todo mundo está apoiando a gente. […] Ele iluminava tudo, todos os dias para mim, não dá para ficar sem ele… Eu fico imaginando, como que eu vou comer, sair, brincar, jogar futebol sem o meu irmão? Ele ficava sempre do meu lado.”

Não somos números
Recém chegada ao Brasil, a jovem Yara relata os impactos da guerra. Estudante de Biomedicina, ela tem 21 anos e nasceu no Líbano.

Ela conta que veio ao Brasil pela primeira vez em 2006, na época o auge da Guerra do Líbano. Ficou em Foz do Iguaçu até 2020, quando retornou ao país do Oriente Médio durante a pandemia de Covid-19.

Yara relata que chegou a passar um período de 2023 no Brasil e que, naquele mesmo ano, ao retornar ao Líbano os confrontos recomeçaram.

“Todos os dias a gente ouvia bombardeios, todos os dias o medo de ser morto, de voltar para casa e não voltar. As pessoas continuaram vivendo, porque a vida permanece, mas ninguém sabe para onde a gente estava indo, se ia voltar para casa, se ia ver os familiares de novo”, afirma.

De acordo com Yara, no último ano, quase todo dia uma, duas pessoas, eram mortas nos bombardeios. Porém, recentemente os ataques ganharam outras proporções.

Só na última segunda-feira (23), quase 500 pessoas morreram e mais de 1.800 mil ficaram feridas nos ataques direcionados ao grupo extremista libanês Hezbollah, financiado pelo Irã e contrário a Israel, no dia mais sangrento desde a Guerra de 2006.

Yara estava com a avó em casa quando começou a receber notícias dos ataques na região. Ela diz que há dias começou a conversar com parentes sobre a intenção de deixar o país.

O pai dela, Kamal, estava angustiado com a guerra e estava tentando voltar com a família para o Brasil.

“A gente não é números, a gente é pessoas cada pessoa tem uma história, não é questão de quantidade, é questão de pessoa, de família”, afirma.

A jovem precisou sair de casa rumo à capital Beirute apenas com documentos. Ficaram no Líbano a avó, uma outra irmã e a família dela.

“Eu falo, mas eu estou em choque… Ainda não caiu a ficha que o meu irmão não está comigo, ficou aquela esperança de ‘não, talvez ele ainda esteja vivo.”

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