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Ainda há espaço para aumento dos preços da carne bovina brasileira no exterior, dizem especialistas

Oferta de animais para abate no BR e nos EUA, demanda e competitividade do produto brasileiro serão determinantes.
Foto: Abiec

As exportações de carne bovina bateram recorde no ano de 2024 quando se fala em volume embarcado. Conforme dados da ABRAFRIGO, os embarques de carnes in natura frescas ou refrigeradas, congeladas, industrializadas e miudezas comestíveis, entre outros, atingiram 3.193.071 toneladas em 2024, aumento de 26%, alcançando uma receita de US$ 13,135 bilhões, elevação de 21%.

Levantamento realizado pela equipe de reportagem do Notícias Agrícolas, com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), apontam que de junho de 2024 até a primeira semana de janeiro de 2025, os preços pagos pela tonelada da carne bovina tiveram uma valorização de 13,16% em que passaram de US$ 4,469 mil por tonelada e estão sendo negociadas em US$ 5.057 mil por tonelada. O questionamento para 2025 é: ainda há espaço para mais altas para o preço da carne bovina brasileira no exterior? Especialistas apontam que sim.

Paulo Mustefaga, presidente executivo da ABRAFRIGO, afirma que existe uma dificuldade em prever o preço porque é uma questão de mercado, oferta e demanda, economia dos países compradores. Mas na análise de Mustefaga, os preços brasileiros são competitivos fazendo com que ainda haja espaço para novas altas.

“Sobre a economia da China, mesmo a gente sabendo de algum desaquecimento no crescimento do PIB, é em relação ao que crescia antes, que era algo enorme. Ainda há espaço, mas é claro que se o preço começa a crescer demais, começa a viabilizar outros fornecedores, mas acredito que nada que comprometa a nossa competitividade”, aponta Mustefaga.

Quem também acredita que há chances de mais aumentos no preço da carne bovina brasileira exportada é Hyberville Neto, médico veterinário e diretor da HN Agro. Ele fala sobre a competitividade do produto brasileiro e que, pensando no preço do boi, estamos próximos do Paraguai, figurando entre os mais baratos dos players. “Quanto a poder pagar mais, como o Brasil está com preços mais distantes que os outros concorrentes, há espaço, caso a demanda continue boa”, afirmou.

“Além disso, estamos no começo do ano, e neste período a China compra um pouco menos e os EUA compra mais, por causa das cotas, e isso faz com que os EUA tenham um peso a mais no total geral exportado pelo Brasil, fazendo com que a média suba, já que, ultimamente, os Estados Unidos tem pagado mais pela carne bovina brasileira do que a China (EUA paga mais do que a média e a China, menos). Então se tem mais peso relativamente dos EUA, isso tende a aumentar a média também”, comentou Hyberville Neto.

O contexto desta valorização da proteína bovina brasileira é de uma elevação, de certa forma, generalizada no mercado internacional, segundo Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado. Ele explica que a China, por necessidade, comprou muita carne no ano passado, e isso inflacionou o mercado global.

Para esta temporada, de acordo com Iglesias, existe o potencial para preços um pouco melhores para a carne bovina não só brasileira, mas também de outros países, em função de um quadro de ofertas no Brasil e nos Estados Unidos menos expressivo.

INVESTIGAÇÃO CHINESA SOBRE OS EXPORTADORES

No apagar das luzes de 2024, o Ministério do Comércio da China anunciou uma investigação sobre as importações de carne bovina por parte do gigante asiático. A busca por informações aprofundadas se concentrará sobre as compras de carne bovina fresca, carne bovina resfriada, cabeças de boi e carne bovina congelada importadas entre 1 de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2024, segundo dados das autoridades locais. A investigação envolve todos os exportadores da proteína bovina para a China e foi declarada a partir de formalização de pedidos por parte de entidades que representam o setor da pecuária no gigante asiático. O processo está previsto para durar oito meses, podendo ser prorrogado.

Iglesias aponta que esta investigação conduzida pelo Governo chinês pode atingir o volume de produto importado. “Se a China concluir que a importação de carne prejudica a produção local e subir essa tarifa de importação de 12% para 20%, isso por si só é um motivo de elevação de preços. Isso vai fazer com que os preços de carne bovina importada suba, sendo este um aspecto importante a ser considerado”.

Entre outros aspectos, o analista da Safras & Mercado aponta que  também é um ano de menor produção de carne suína na China, proteína muito consumida pela população local, fazendo de 2025 um ano de boa perspectiva de exportação novamente para diversos países, não só para o mercado asiático. “Deve haver um bom “apetite” de compras para proteínas animais. O Brasil pode até se beneficiar desta possível guerra comercial entre Estados Unidos e México, podendo alavancar suas vendas de carne para o mercado mexicano”.

FATOR CAMBIAL 

Para Hyberville Neto, quanto ao câmbio, isso influencia no aumento da competitividade da carne no mercado externo. “Se o câmbio fosse a causa da movimentação de preços, tenderia até a fazer com que nosso preço em dólar pudesse diminuir e em reais se manter. É a competitividade gerando demanda pela carne, influenciando o preço positivamente”, explicou.

Fernando Iglesias afirma que esse câmbio tão desvalorizado aumenta, e muito, a competitividade do produto brasileiro lá fora. “Essa elevação de preços médios estava prevista no início do ano passado, e neste ano temos, sim, possibilidade de alta, mas altas moderadas, da mesma maneira que estamos acompanhando. O que precisamos pensar é que US$ 100, US$ 150 dólares de alta é uma diferença impressionante com o câmbio como está”.

Na visão de Paulo Mustefaga, a competitividade da carne brasileira frente às concorrentes já leva em conta a desvalorização cambial. “Dólar mais alto atrai a exportação. Esperamos que se estabilize, porque isso impacta outros setores da economia. Mantendo os patamares atuais, a gente consegue ainda ter espaço para crescer sem perder a competitividade”

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